Nunca entendi algumas pessoas na vida. Aquelas que
gostam de batata frita com sorvete. As que preferem cidade à natureza. As que
mandam indireta no Facebook. Mas se tem um grupo de pessoas que me deixam mais
confusa ainda, são aquelas que gostam de amores turbulentos.
Esse tipo de gente que é viciado numa briga. Que
acha o melhor sexo do mundo aquele de reconciliação. Que usa a criatividade
para inventar coisas que não existem só pra poder soltar faísca. Que tem
orgasmos ao ganhar uma discussão. Que fuça no celular do outro torcendo pra
achar qualquer motivo pra pegar no pé. Que tem como esporte preferido jogar
coisas na cara. Que acha que um amor “tranquilo com sabor de fruta mordida” só
é bom mesmo na voz do Cazuza.
Você com certeza conhece pessoas assim, ou quem
sabe, pode ser uma delas. Não me leve a mal, mas é que sempre tive uma
curiosidade enorme de entender como o cérebro dessas pessoas funciona. O que
motiva essas pessoas a gostarem de relacionamentos no qual a guerra impera? Tem
gente que acha que brigar todo dia ou toda semana é normal. Que acha normal
levantar a voz para o outro, xingar a mãe, quebrar pratos, dizer um monte de
barbaridades, e depois ir dormir abraçado de conchinha.
Minha teoria é que essas pessoas são viciadas na
adrenalina gerada por uma briga. Elas são viciadas na sensação de fragilidade e
só dão valor quando se lembram de que nada é verdadeiramente seguro. Gostam de
ter a sensação de que tudo pode acabar no próximo instante. Se sentem que tudo
está bem, que o mar anda calmo, sem ondas, uma piscina, começam a se sentir
entediadas e acham logo um jeito de trazer uma tempestade para mudar os ares.
Assim como não entendo – mas respeito – as pessoas
que gostam de batata frita com sorvete, respeito as que sofrem de abstinência
quando ficam muito tempo sem brigar. Cada um sabe a dor e os prazeres de ser
quem é, e ainda bem que existe livre arbítrio no mundo. Eu, no entanto, sou do
time que adora um amor tranquilo.
Sou viciada mesmo é na calmaria de uma conchinha.
Num abraço de bom dia seguido de um “que-bom-que-você-tá-aqui”. Na saudade
antes mesmo de partir. No sexos de amor, e não de reconciliação. Na sensação de
poder se jogar com a certeza de que o outro vai te segurar. No cafuné na cabeça
com colo macio depois de um dia áspero. Nas madrugadas de conversa que passam
sem ver – e que só acabam quando o sol vem te lembrar que é hora de dormir. No
encaixe dos corpos sem que só faíscam de tanto amor. Na troca de elogios. No
descompasso do coração – de paixão, e não de ódio. Na sensação de entregar o
coração na mão do outro e ter certeza de que ele vai cuidar tão bem como se
fosse o dele. Nas declarações de amor deixadas no espelho. No desafio de se
reapaixonar todos os dias – e ter a certeza de que é possível.
E no fundo acho mesmo que quem diz que gosta de
amores turbulentos é porque nunca viveu a delícia de um amor facinho. Porque de
guerra, o mundo já está cheio.
Jaque Barbosa
http://thesecret.tv.br/2014/08/quero-delicia-de-um-amor-tranquilo/
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